Venda de ‘café fake’ preocupa em meio a alta nos preços do grão verdadeiro
Atualizado em 04/02/2025
Produto feito com cascas, folhas e palha do café pode enganar consumidores e levanta alerta na indústria
A comercialização de produtos rotulados como “sabor café“, mas que não contêm o grão de café propriamente dito, tem causado preocupação na indústria brasileira. A alta nos preços do café torrado e moído nos supermercados tem impulsionado a oferta desse tipo de produto, que pode confundir consumidores.
O chamado “café fake” ou “cafake” é produzido a partir de partes da planta do café, como cascas, palha, folhas e até pequenos galhos, mas sem a semente — o grão utilizado para a fabricação do café tradicional. Especialistas alertam que essa prática pode induzir o consumidor ao erro, especialmente quando a embalagem do produto é semelhante à do café verdadeiro.
Fraude ou alternativa econômica?
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio da Silva, considera a venda desse pó como uma “clara e evidente tentativa de burlar e enganar o consumidor”. Em entrevista à agência Reuters, ele relatou que um desses produtos foi identificado recentemente em Bauru, no interior de São Paulo.
Um exemplo é um produto comercializado com o nome Oficial do Brasil, cuja embalagem destaca a expressão “bebida sabor café tradicional”. Apesar de indicar que não se trata de café puro, o rótulo pode levar ao erro, especialmente para consumidores que buscam alternativas mais baratas.
Alta dos preços impulsiona mercado de falsificações
O fenômeno do “café fake” ganha força em meio à disparada do preço do café arábica no mercado internacional, que bateu um recorde de US$ 3,81 por libra-peso na Bolsa de Nova York no último dia 31. A escassez de oferta, agravada por fenômenos climáticos como ondas de calor e redução da produção no Brasil, tem impactado diretamente os preços no varejo.
Atualmente, meio quilo do café tradicional custa cerca de R$ 30 nos supermercados, enquanto produtos com sabor café podem ser encontrados por valores bem mais baixos, como R$ 13,99. Para a Abic, essa diferença de preço pode levar muitos consumidores a comprar o produto acreditando que estão adquirindo café de verdade.
Risco à saúde e alerta aos supermercados
A Abic já denunciou o caso ao Ministério da Agricultura (Mapa) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além do risco de fraude ao consumidor, há preocupações com a segurança alimentar, uma vez que esses produtos podem não atender às normas sanitárias.
“É preciso ter autorização da Anvisa e comprovar a segurança alimentar”, afirmou Silva. A associação também alertou supermercados sobre a comercialização do produto, destacando que os varejistas podem ser corresponsáveis por eventuais irregularidades.
“O supermercadista é corresponsável pelo produto que vende. Ao oferecer opções mais baratas sem a devida fiscalização, pode estar cometendo um crime”, destacou o executivo.
Histórico de adulterações e impacto no consumo
Embora a prática de misturar café com outros ingredientes não seja novidade, os levantamentos da Abic não registravam esse tipo de “café fake” no mercado desde 2022. No passado, a entidade chegou a lançar um selo de pureza para combater adulterações, como a adição de milho torrado ao café moído.
A preocupação da indústria vai além da fraude: há o receio de que consumidores desavisados, ao experimentarem um produto de qualidade inferior, percam o interesse pelo consumo de café de verdade.
“O Brasil mostrou que café não é tudo igual, tirando o ranço de que não bebemos bons cafés. Se não combatermos isso, as pessoas vão começar a beber este ‘café fake’ e dizer que não gostam… elas podem diminuir o consumo”, concluiu Silva.
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