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Terras Raras: Caldeira de Poços de Caldas tem potencial para transformar o Brasil em potência energética mundial; entenda

Atualizado em 23/06/2025

 

Depósito mineral sobre vulcão extinto no Sul de Minas é considerado o mais promissor do mundo fora da China e pode reposicionar o país na corrida pela energia limpa

Amostra de argila retirada de área formada sobre cratera de vulcão extinto no Sul de Minas rica em elementos conhecidos por terras raras — Foto: Viridis/Divulgação

 

Um vulcão extinto no Sul de Minas Gerais pode transformar o Brasil em protagonista na corrida mundial pela energia limpa. Localizada na Caldeira de Poços de Caldas — uma área de 750 km² que abrange os municípios de Poços de Caldas, Caldas, Andradas (MG) e Águas da Prata (SP) — a maior jazida de terras raras fora da Ásia começa a chamar a atenção de mineradoras estrangeiras, investidores e especialistas.

Além da abundância mineral, a região oferece um diferencial raro no setor: a facilidade de extração e concentração dos elementos, que podem ser decisivos para reduzir a dependência global da China, que atualmente controla cerca de 75% da produção de terras raras e praticamente a totalidade da cadeia de ímãs permanentes.

O “unicórnio do vulcão”

A importância da jazida sobre a caldeira de Poços de Caldas é tão grande que o depósito vem sendo chamado no setor mineral de “unicórnio do vulcão” — termo usado para descrever uma descoberta rara, de alto valor estratégico e condições geológicas excepcionais, quase impossível de se encontrar novamente.

Esse status se deve à origem do minério. Há 120 milhões de anos, durante a fase ativa do vulcão, formou-se uma rocha alcalina — um tipo de rocha mais frágil e suscetível à erosão. Ao longo de milhões de anos, essa rocha se transformou em argila iônica rica em terras raras, um tipo de formação extremamente rara no planeta. A caldeira de Poços de Caldas é a segunda maior ocorrência de rocha alcalina do mundo, atrás apenas de uma jazida na Sibéria, que, devido ao clima, não permite a formação de argila iônica.

“O mundo inteiro está procurando e ainda não encontrou nada semelhante ao que nós temos aqui. Hoje, nós somos a melhor e maior jazida do mundo”, afirma o geólogo Álvaro Fochi, responsável pela descoberta.

Como funciona a extração das terras raras

Diferentemente de outras operações mineradoras, o minério na caldeira de Poços de Caldas está próximo à superfície, o que elimina a necessidade de dinamites ou cavas profundas. Isso permite um modelo de mineração de baixo impacto ambiental e menor custo.

O processo envolve cinco etapas principais:

  1. Remoção do Solo:
    Uma camada de aproximadamente 30 metros de profundidade é retirada com o uso de retroescavadeiras.
  2. Lixiviação:
    A argila extraída passa por lavagem com uma solução diluída de sulfato de amônia (usado em fertilizantes), que libera os íons de terras raras da argila.
  3. Separação e Precipitação:
    O líquido contendo os íons entra em um circuito fechado, onde os elementos são separados e transformados em carbonato — o produto final utilizado na indústria de tecnologia e energia renovável.
  4. Lavagem e Reutilização da Argila:
    Após o processo, a argila é lavada novamente para remoção de impurezas e armazenada.
  5. Recuperação Ambiental:
    O material escavado é reutilizado para preencher as cavas abertas, e a área recebe cobertura vegetal semelhante à original, preservando o ecossistema.

Esse sistema de exploração e reabilitação contínua é chamado de backfill e é considerado atualmente o modelo mais sustentável de mineração no mundo.

“A natureza fez tudo. Destruiu a rocha e transformou em argila iônica. Hoje, você retira, lava e devolve para a cava. Depois de um ano não se percebe nem cicatriz, e o consumo de energia é muito menor”, explica o diretor executivo da Meteoric Resources, Marcelo Juliano de Carvalho.

Volume de produção e vantagens competitivas

A concentração de terras raras na caldeira impressiona: enquanto a média global fica entre 1 mil e 1,5 mil ppm (partes por milhão), a caldeira de Poços de Caldas apresenta índices de 2,5 mil ppm — quase o dobro. Além disso, o aproveitamento do minério chega a 70%, contra 40% da média mundial.

Dois projetos estão em fase de licenciamento e devem iniciar a extração entre 2026 e 2027:

  • Projeto Caldeira, da australiana Meteoric Resources, em Caldas, com 740 milhões de toneladas de argila em 193 km².
  • Projeto Colossus, da Viridis, em Poços de Caldas, com 201 milhões de toneladas de argila em 228,62 km².

E isso é só o começo: as áreas estudadas representam apenas 15% da caldeira. As estimativas indicam a existência de 2 bilhões de toneladas de argila com terras raras, podendo ultrapassar 10 bilhões de toneladas quando todo o território for mapeado — o suficiente para garantir 20 anos de exploração.

O custo de produção, estimado em US$ 6 por quilo, é o mais baixo do mundo, tornando o Brasil um potencial concorrente direto da China.

Preocupação ambiental e monitoramento

Apesar do modelo sustentável, ambientalistas alertam para os riscos de resíduos químicos no solo e nas águas subterrâneas.

“É necessária a realização de um estudo independente financiado pelas prefeituras para avaliar os impactos reais. O processo devolve toneladas de terra processada para as cavas, e isso precisa ser monitorado com rigor”, afirma Daniel Tygel, presidente da Aliança em Prol da APA da Pedra Branca.

A Prefeitura de Poços de Caldas informou que acompanha os estudos de impacto ambiental e discute formas de preparar a cidade para os efeitos sociais e econômicos da exploração. Caldas já emitiu a licença de uso e ocupação do solo e negocia um termo de compromisso com a Câmara Municipal para resguardar os interesses locais.

Plano nacional para produção de ímãs e cadeia de valor

O governo brasileiro pretende ir além da mineração. Um projeto para criar uma cadeia completa de produção de ímãs de Neodímio, Ferro e Boro — componentes fundamentais para motores elétricos, turbinas eólicas e veículos sustentáveis — está em andamento.

Em maio, foi inaugurado em Lagoa Santa (MG) o laboratório CIT SENAI ITR, com capacidade para produzir 100 toneladas de ímãs por ano para pesquisa e inovação. Por ora, a matéria-prima virá da China, mas a meta é usar, em breve, o minério da caldeira de Poços.

“A proposta é transformar o CIT SENAI ITR na maior planta de pesquisa aplicada em ímãs permanentes da América do Sul e fazer do projeto MagBras o ponto de partida para uma cadeia nacional completa, do minério ao ímã final”, destacou a Fiemg em nota.

Potencial de arrecadação e impacto econômico

A mineração de terras raras pode representar uma virada econômica para a região. Estima-se que Poços de Caldas arrecade até R$ 23 milhões por ano apenas com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), valor equivalente a 15 anos de arrecadação com bauxita e argila refratária.

A previsão é de aumento na geração de empregos diretos e indiretos, qualificação de mão de obra local e incremento na arrecadação municipal, estadual e federal, reforçando o papel estratégico da caldeira de Poços de Caldas para o futuro da indústria verde mundial.

 

Fonte: Com informações de G1.

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