Falas de escritora no Flipoços provocam acusações de preconceito e revolta no festival
Atualizado em 02/05/2025
Declarações da escritora Camila Panizzi Luz causaram constrangimento e indignação durante o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), na última terça-feira (29).
A autora, que atualmente vive em Portugal, se envolveu em duas polêmicas no evento: uma fala considerada preconceituosa ao tentar interagir com o coletivo Neomarginal e uma discussão com um livreiro da feira.
Durante uma palestra, Camila convidou ao palco o escritor Wesley Barbosa, da Barraco Editorial, participante do estande do Coletivo Neomarginal. Na ocasião, ela declarou:
“Como que faz para ser neomarginal? Eu quero ser uma neomarginal, gente, olha que tudo. Camila Luz, neomarginal, nunca fui presa.”
A frase foi interpretada como ofensiva por Barbosa, que se manifestou nas redes sociais, relatando o constrangimento.
“Achei que era para falar da minha trajetória, toda hora ela me interrompia e soltou essa pérola. A pessoa fala que vai te dar espaço e você é humilhado.”, publicou.
Diante da repercussão negativa, Camila pediu desculpas publicamente:
“Não imaginei que pudesse gerar desconforto, e por isso, peço desculpas a quem se sentiu ofendido. Sempre procuro amplificar vozes que nem sempre têm espaço, e continuo aprendendo com cada experiência.”
Confusão com livreiro
No mesmo dia, a escritora também se envolveu em um desentendimento com um livreiro da feira literária. Segundo relato da vítima, que preferiu não se identificar, Camila teria feito comentários ofensivos sobre seu peso e insinuado algo sobre o tamanho de seu órgão genital, além de acionar os seguranças do evento.
O autora afirmou que o livreiro teria dito:
“Ela acha que pode mandar prender, soltar, porque o pai é embaixador.”
Francisco Carlos Soares Luz, pai de Camila, é embaixador do Brasil na Bolívia, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores.
Sobre o episódio, a escritora reconheceu:
“Foi, sem dúvida, um dos momentos mais difíceis que vivi recentemente. Reconheço que reagi de forma impulsiva, e isso é algo que venho tentando trabalhar.” Ela alegou ter sido agredida verbalmente antes da discussão.
Redes Sociais
Além das declarações polêmicas durante o evento, Wesley Barbosa compartilhou em suas redes sociais um print de uma conversa privada com Camila Panizzi Luz.
Na mensagem, a escritora aparece reagindo a uma postagem dele sobre uma campanha online para viabilizar o lançamento de seu livro na França, ironizando a iniciativa. Camila escreveu:
“Ai ai viu. Não vou mais dar palco não. Espero mesmo que agora pedindo dinheiro você consiga crescer”.
Na publicação, Wesley desabafou:
“A Camila, que falou aquela frase infeliz aqui na Flipoços ‘mas eu nunca fui presa’, ao saber que estou fazendo uma vaquinha para o lançamento do meu livro na França, acabou de me escrever no Instagram. Só para esclarecer: não comecei a levantar fundos para essa viagem depois do ocorrido; já faz um tempo que estou fazendo a vaquinha, pois meu livro foi traduzido para o francês e está lá nas livrarias. Não irei para lá porque a minha mãe é amiga de alguém, meu livro não foi traduzido e publicado porque alguém me indicou, a editora quis publicar porque gostou da minha escrita. Tampouco sou filho de pais ricos. As pessoas estão comprando meu livro e até recebo mensagens de franceses elogiando-me. Enfim, talvez para ela seja tudo mais fácil pelo fato de ser filha de um embaixador, não é mesmo, Camila?!”. Wesley afirmou que não pretendia tornar a conversa pública, mas decidiu expor a situação após o teor da mensagem recebida.
Repercussão e medidas
A curadora do festival, Gisele Corrêa Ferreira, repudiou as atitudes:
“A organização do evento repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito. Qualquer declaração que não reflita o diálogo respeitoso também não reflete nossa postura.”
Gisele explicou que a participação de Camila e de sua mãe, a escritora Ivana Panizzi, foi um pedido pessoal.
“Ela falou que a filha estava com um livro para ser lançado, se teria jeito de fazer o lançamento. Falei claro, lógico, não vou falar não para uma amiga.” A curadora negou qualquer favorecimento e reforçou a seriedade da curadoria.
Nota oficial da Prefeitura
A Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica e a Rede da Igualdade Racial de Poços de Caldas emitiram nota conjunta, repudiando as declarações de Camila e solidarizando-se com Wesley Barbosa.
“É inaceitável que episódios de discriminação racial persistam em nossa sociedade, especialmente em um ambiente tão importante para o desenvolvimento da cidade, como é o Festival Literário Internacional. Manifestamos nosso veemente repúdio e nos juntamos a Wesley Barbosa em sua jornada de luta e dedicação à literatura.”
O comunicado destaca ainda o compromisso do município com ações de combate ao racismo e informa que a organização do evento decidiu romper os vínculos com Camila Panizzi Luz.
Todos os livros da autora foram retirados da feira e suas futuras participações canceladas. Além disso, será aberta uma convocatória de escuta para fortalecer a curadoria, visando garantir mais representatividade e pluralidade no festival.
A Divisão e a Rede reafirmaram o compromisso de combater todas as formas de discriminação, ressaltando os avanços da cidade na luta antirracista e a recente adesão ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir).
Por fim, a nota expressa solidariedade ao escritor Wesley Barbosa e reforça o compromisso em seguir trabalhando para erradicar o racismo e todas as formas de preconceito na sociedade.
Fontes: Com informações de Terra, G1 e Secom.
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