Passivo radioativo bilionário impede desmonte de planta de urânio no Sul de Minas
Atualizado em 07/03/2025
Estatal INB tenta vender milhões de toneladas de material radioativo antes de iniciar desmonte da unidade em Poços de Caldas
Após décadas de espera, a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) obteve a licença ambiental necessária para desmontar sua primeira unidade de exploração de urânio no país, localizada em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais. A autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) permite o descomissionamento da mina, que operou entre 1982 e 1995. No entanto, um impasse bilionário ameaça atrasar o início do processo: a necessidade de destinação de milhões de toneladas de resíduos radioativos armazenados no local.
Atualmente, o chamado “torta 2”, um resíduo do processamento químico da areia monazítica, está acondicionado em 19.600 tambores metálicos de 285 litros e 19.175 bombonas plásticas de 100 litros. O custo estimado para o tratamento e descarte desse material chega a R$ 1,2 bilhão, quantia que a estatal não dispõe. Diante disso, a empresa busca vender os resíduos para outros países que possam processar os minérios contidos no material.
Negociações em andamento
O presidente da INB, Adauto Seixas, confirmou que representantes de Rússia, Índia, Canadá, França, China e Coreia do Sul já visitaram a unidade, sendo a China o país que demonstrou maior interesse. “A conversa está evoluindo. Mais do que vender o produto, queremos nos livrar desse passivo ambiental bilionário. Se chegarmos a um acordo para a retirada do material, já será um grande avanço”, afirmou.
O edital de venda foi publicado no ano passado, mas até o momento nenhum negócio foi concretizado. Enquanto isso, a estatal segue realizando estudos de caracterização da unidade, que influenciarão os custos finais do desmonte.
Redução de custos do desmonte
Inicialmente, o desmonte da unidade de Poços de Caldas e sua recuperação ambiental foram estimados em US$ 500 milhões (cerca de R$ 3 bilhões). No entanto, após revisões e considerando a possibilidade de vender os resíduos, a INB reduziu a previsão para R$ 700 milhões. O processo de descomissionamento deve durar entre 20 e 30 anos.
Segundo Seixas, cerca de R$ 190 milhões já estão previstos no orçamento para a primeira fase, que será executada ao longo de 15 anos. Para 2025, a estatal pretende investir entre R$ 10 milhões e R$ 11 milhões, valor já garantido no fundo de descomissionamento.
“A gente vinha fazendo poucas coisas, mas agora o jogo começou. Espero vender esse material ainda este ano e avançar com as outras etapas. Se conseguirmos retirar esse passivo de Caldas, já será um sonho”, declarou o presidente da INB.
A mineração de urânio no Brasil
O Brasil utiliza o urânio extraído em território nacional na produção de combustível para as usinas nucleares de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro. Atualmente, a mineração ocorre em Caetité, na Bahia, mas a estatal já planeja expandir sua atuação.
Em outubro de 2024, a INB entregou novos estudos para viabilizar o Projeto Santa Quitéria, no Ceará. A expectativa é que a unidade, localizada no município de mesmo nome, possa extrair 2.300 toneladas de concentrado de urânio por ano, consolidando o Brasil como um dos principais produtores mundiais do material.
Fonte: Com informações de Folhapress.
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