Governo analisa destino final para toneladas de materiais radioativos armazenadas em Caldas (MG) e São Paulo há décadas.
O governo acaba de criar um Grupo de Trabalho (GT) para apresentar “opções” visando a “disposição final” para as toneladas de Torta II (material radioativo) e diversos materiais contaminados por radiação, que há décadas estão armazenados de forma precária nas instalações da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caldas (MG), na Usina de Interlagos (USIN) e sítio São Bento, em Botuxim/ Itu, ambos em São Paulo. Conforme documento obtido pelo Blog da Tânia Malheiros, equipe da INB que forma o GT, deverá considerar “possível aproveitamento industrial e econômico” do material radioativo: processamento no Brasil, venda para o exterior, e depósito no próprio Estado onde foi gerado. A INB é subordinada ao Ministério de Minas e Energia (MME).
A divisão de responsabilidades será avaliada com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que faz o controle. O relatório deverá ser concluído em 120 dias, segundo o documento. O Brasil poderia ter se livrado da Torta II no passado, vendendo o material para a China, segundo o professor Aquilino Senra, que presidiu a INB entre 2013 e 2016, mas o negócio não prosperou. O coordenador da unidade de Caldas, João Viçozo da Silva Junior, que integra o GT, comentou recentemente que há interesse externo, da China e do Canadá, entre outros países. Desde 20 de setembro a INB está sob nova direção, sendo presidente Adauto Seixas, funcionário antigo de Caldas.
A maior parte do material radioativo é fruto de exploração de mão de obra operária na Orquima, sucedida pela Usina de Santo Amaro, da Nuclemon, em São Paulo, sucedida pela INB. O trabalho penoso, gerou um número até hoje não revelado de trabalhadores que morreram contaminados: foram enganados sem saber que trabalhavam com material radioativo (areias monazitas e produtos químicos). Em 2006, os sobreviventes – atualmente, um número cada vez menor- fundaram a Associação Nacional dos Trabalhadores na Produção Nuclear (ANTPEN), que luta na Justiça por indenizações e pala manutenção do Plano de Saúde para custear tratamentos contra o câncer e outras doenças.
TAMBORES EM CORROSÃO
A INB tenta descomissionar as suas instalações no município de Caldas, onde concentra milhares de tambores com Torta II (rejeito extraído no tratamento químico da monazita, fosfato que combina metais pesados de terras raras, urânio e tório), que estavam em processo de corrosão e infiltração. Em setembro passado, finalizou a remediação dos embalados de Torta II no local, com novos tambores metálicos e na substituição dos paletes que sustentam o empilhamento dos tambores.
“A primeira fase do trabalho aconteceu de janeiro a maio de 2022, onde foram priorizadas as pilhas instáveis e foi possível superar a meta com menos de dois meses de operação, tendo, por fim, um resultado de sobreembalagem e substituição de paletes de 3.500 tambores metálicos. A segunda fase da atividade foi iniciada em setembro de 2022 com meta de remediação de 16.100 tambores metálicos.
O objetivo da ação foi promover a melhoria da capacidade de contenção dos embalados e de sustentação das pilhas”, informou a empresa. Atualmente, a unidade da INB em Caldas armazena 12.534 toneladas de Torta II, quase 11 vezes o volume guardado nos galpões de Interlagos. São números oficiais, divulgados pela INB.
SÍTIO SÃO BENTO CONTAMINADO
No Sitio São Bento, em Botuxim, estão armazenadas 3.500 toneladas de Torta II, estocados em sete silos, que são grandes depósitos em forma de piscinas retangulares, construídas em concreto. Os silos ocupam aproximadamente 800 metros quadrados em área isolada de 20 mil metros quadrados da propriedade. O Sítio São Bento possui uma área total de aproximadamente 300 mil metros quadrados. O local onde se encontram os silos está isolado por cercas e muros. São décadas de armazenamento sem que a sociedade saiba e tenha informações sobre a segurança do local.
USIN: TERRENO VALIOSO
Na USIN, são 1.179 toneladas de rejeitos radioativos, no bairro de Interlagos, guardados em galpões deteriorados, na zona sul de São Paulo. A USIN é bem próxima à Igreja do Padre Marcelo, com vários prédios residenciais nas proximidades. O terreno é valioso e a sua venda está no radar da INB. Há anos a INB discute o destino do material radioativo da USIN, com vistas a liberar a área de Interlagos até 2025. Anunciou há três anos a promessa de promover o processo de descontaminação da área externa do terreno de 60 mil metros quadrados.
Na ocasião colocou em pauta a possibilidade de liberar o espaço para ser entregue a entregue à prefeitura, mas nada foi adiante. Das 1.179 toneladas de rejeitos radioativos guardados nos galpões de Interlagos, 590 toneladas seriam Torta II. De acorro com a INB, em 2021, o restante inclui resíduos e materiais diversos associados a esse produto. Hoje, não há números atualizados disponibilizados.
FOTO: CALDAS, USIN, BOTUXIM – BLOG/INB/JORNAL DE ITU.
FONTE: BLOG TÂNIA MALHEIROS
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