Conflito entre Zema e Governo Lula: Disputa por Destino de Recursos do Acordo de Mariana
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, desencadeou um embate com o governo federal, liderado por Lula, ao expressar sua insatisfação durante as negociações da repactuação do acordo após o desastre de Mariana em 2015. Zema busca utilizar os recursos não apenas na área afetada, mas em obras em todo o estado, enquanto o governo Lula e o Movimento dos Atingidos por Barragens defendem a aplicação exclusiva na região impactada.
O impasse reside na visão divergente sobre a destinação dos recursos. Zema propõe um modelo semelhante ao adotado em Brumadinho, onde parte da indenização foi destinada a obras em todo o estado. No entanto, o governo federal insiste na aplicação restrita à área afetada pela tragédia, abrangendo municípios na bacia do Rio Doce.
A falta de consenso reflete a discordância sobre as prioridades: Zema destaca a necessidade de recursos para segurança e saúde em todo o estado, enquanto o governo federal visa investir em saneamento básico, saúde e remoção de rejeitos na região impactada.
Ambos os lados concordam que o modelo atual de reparação, com a Fundação Renova coordenando ações, falhou. Tanto o governo federal quanto o estadual expressam insatisfação com a demora na implementação das medidas compensatórias e reparatórias, ressaltando a necessidade de uma revisão efetiva.
Enquanto novas reuniões entre os governos estão agendadas para buscar uma solução, o prazo para o término das negociações se aproxima, deixando em aberto a questão do montante a ser repassado pelas mineradoras. Oito anos após a tragédia de Mariana, o impasse destaca a urgência de uma abordagem eficaz na reparação integral e atenção aos impactos na bacia do Rio Doce.
Desastre de Mariana•
O Desastre de Mariana ocorreu em 5 de novembro de 2015 e foi a maior tragédia ambiental da história do Brasil.
O acidente foi provocado pelo rompimento da Barragem do Fundão, usada para guardar os rejeitos de minério de ferro explorados pela empresa Samarco.
O evento causou a destruição do meio-ambiente, contaminação do rio, do solo e um saldo de 19 mortos.
Desastre
No dia 5 de novembro de 2015, às 16:20, a Barragem do Fundão não conteve os 55 milhões de metros cúbicos de lama que armazenava em seu interior e arrebentou.
A lama chegou em apenas 15 minutos à pequena localidade de Bento Rodrigues, situada a 8 km da barragem, com uma população de 620 habitantes. Esta cidade desapareceu soterrada pela lama e hoje restam somente escombros daquilo que eram casas.
Por 16 dias, a lama seguiu o leito de 853 km do rio Doce e atingiu as cidades ribeirinhas provocando escassez de água, diminuição da pesca, do comércio e do turismo.
A lama chegou à bacia hidrográfica no dia 21 de novembro e os dejetos se espalharam num raio de 80 quilômetros causando graves prejuízos para a indústria local.
Ao todo, 39 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, onde moram 1,2 milhões de pessoas, habitam nestas cidades e viram suas vidas afetadas. Mais dois mil hectares de terras ficaram inundadas e inutilizadas para o plantio.
Samarco e o desastre de Mariana
A Samarco é uma empresa brasileira de extração e beneficiamento de minério de ferro criada em 1977 e administrada pela brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.
A empresa gera três mil empregos diretos e cerca 3,4 mil empregos indiretos no Brasil e teve um lucro de 2,2 bilhões de reais em 2014.
A empresa inovou a exploração do minério de ferro utilizando “minerodutos” ou seja, túneis para transportar o material extraído das montanhas de Minas Gerais.
Igualmente, a Samarco se especializou em fabricar pelotas de minério de ferro e alcançou a produção de 30,5 milhões de toneladas anuais em 2014.
Para extrair o minério de ferro é preciso separá-lo da terra e eliminar os resíduos. Neste processo, as empresas devem adequar esses dejetos em barragens apropriadas seguindo normas de segurança.
Após o desastre, a empresa alegou que seguia rigorosamente as regras e que as barragens passavam periodicamente por inspeções governamentais.
No entanto, há suspeita que várias licenças ambientais e as fiscalizações tenham sido aprovadas como troca de favor da empresa aos políticos interessados em financiamento nas suas campanhas eleitorais.
A empresa foi multada pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio-Ambiente) em R$ 250 milhões, contudo, em 2017 só havia pago cerca de 1% desse valor.
Impactos ambientais do desastre de Mariana
As consequências ambientais do desastre de Mariana foram tão severas que os pesquisadores ainda buscam respostas para entender os efeitos da ação e como a natureza poderá se restabelecer.
A lama e os resíduos da mineração percorreram mais de 600 km até atingir o Oceano Atlântico, onde resultaram em impactos ambientais ao ecossistema marinho, especialmente aos recifes de corais.
Durante a avalanche de lama, a maioria dos peixes morreram e como resultado 26 espécies desapareceram da área. Enquanto isso, animais terrestres como pequenos mamíferos e anfíbios foram soterrados pela lama. As árvores próximas aos trechos dos rios foram arrancadas pela força da água ou ficaram submersas.
Peixes mortos no desastre de Mariana
A lama também impediu a realização da fotossíntese pelo fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática, e contaminou os peixes e outros organismos. Os rios atingidos ainda tiveram mudanças em suas características físicas como, diminuição da profundidade, destruição da mata ciliar e soterramento de nascentes.
O solo foi contaminado pela enxurrada de lama, tornando-se infértil e impedindo o desenvolvimento das espécies vegetais. A composição química do solo foi alterada e não se sabe de que forma e quanto tempo demorará para se restabelecer.
Muitas pesquisas apontam que a restauração da área é impossível. Assim, a biodiversidade local foi perdida de forma irreversível, com severas consequências ambientais para a natureza e a população humana que dependia dos recursos naturais.
Números da tragédia de Mariana
Quantidade de Lama: 62 milhões de m3
Cidades Atingidas: 41
Vítimas Fatais: 19
Famílias Desabrigadas: 600
Vegetação Destruída: 1469 hectares
Peixes Mortos: 14 toneladas
Índice de Desemprego na Região: 23,5%
Processos Judiciais Contra a Samarco, Vale e BHP 22.
Previsão de Recuperação do Meio-Ambiente Ano de 2032.
Impacto econômico do desastre de Mariana
O desastre de Mariana deixou milhares de pescadores sem emprego. Em Linhares (ES), a pesca está proibida desde 2015.
Com a paralisação da Samarco, o estado do Espírito Santo se viu afetado, pois a empresa respondia por 5,8% do PIB capixaba e gerava 20 mil empregos diretos e indiretos.
As cidades do sul do Espírito Santo como Guarapari e Anchieta, viram sua receita diminuir drasticamente e vários fornecedores perderam seu maior cliente.
Ações judiciais contra a Samarco
Após o desastre ambiental, o Ministério Público entrou com uma ação judicial contra as mineradoras responsáveis pela Barragem do Fundão.
Um dos meios encontrados para reparar os danos e agilizar os atingidos foi criar a Fundação Renova. Esta entidade engloba representantes civis, do governo e das empresas mineradoras que trabalham juntos para encontrar uma solução para a tragédia de Mariana.
Em 26 de junho de 2018, um novo acordo foi feito entre as mineradoras e o Ministério Público. Este previa mudanças no conselho da Fundação Renova, produção de laudos técnicos independentes e a constituição de comissões locais para avaliar o andamento dos programas de recuperação.
No entanto, esta decisão suspende a ação de 20 bilhões de reais que estava sendo movida contra as mineradoras, assim como outra de 2017, no valor de 155 bilhões de reais.
•Fonte: Toda Matéria.
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