Professor Mário Ruela critica proposta de federalização da UEMG: “É inconstitucional e desrespeitosa com Minas”
Atualizado em 07/07/2025
Diretor da unidade de Poços de Caldas afirma que medida ataca patrimônio cultural e social do estado e alerta para impactos diretos nos servidores, alunos e na comunidade
Em entrevista ao Programa Café Interativo, da Sulminas TV, exibido na última quinta-feira (3), o diretor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – unidade Poços de Caldas, professor Mário Ruela Filho, fez duras críticas à proposta do governador Romeu Zema de federalizar a universidade como parte do pacote de medidas para incluir o estado no Programa Nacional para Pagamento da Dívida dos Estados (PROPAG), instituído pela Lei Complementar nº 212 de 2025.
Segundo Ruela, a medida representa um “ataque direto ao patrimônio cultural, educacional e social do povo mineiro”. Ele detalhou dois projetos enviados à Assembleia Legislativa pelo governo: o PL 3733, que permite a transferência ou venda de patrimônios estaduais, e o PL 3738, que propõe a federalização da UEMG.
“A UEMG não é feita apenas de prédios. São 1.700 professores, 600 técnicos e mais de 22 mil alunos. Não há nenhuma explicação de como ficará a situação desses servidores ou dos estudantes. Isso é inconstitucional”, afirmou.
O professor lembrou que Minas Gerais tem hoje uma dívida estimada em R$ 177 bilhões com a União, mas defendeu que o pagamento não deve ocorrer à custa da educação.
“Minas tem que pagar o que deve, mas não sacrificando a universidade pública. Não se paga dívida entregando a dignidade do nosso povo”, criticou.
Durante a entrevista, o apresentador Silas Lafaiete também abordou a postura do governador Zema em relação à ditadura militar. Ruela foi contundente:
“Quem não viveu a ditadura não sabe o que ela foi. Eu vi meu pai chegar chicoteado em casa. O Zema não sabe do que está falando. É ignorante sobre o tema e, na educação, infelizmente, tem deixado a desejar.”
“Servidor híbrido”? Uma ficção jurídica
Na audiência pública ocorrida na Assembleia de Minas, com a presença de três secretários de Estado — Educação, Planejamento e Fazenda —, o termo “servidor híbrido” foi utilizado para tentar explicar o futuro dos trabalhadores da UEMG. A resposta foi imediatamente rebatida por Ruela:
“Não existe servidor híbrido. Como vou ser funcionário do Estado e da União ao mesmo tempo? Isso é invenção. Não há base legal para isso.”
O diretor também alertou para a perda salarial que os servidores poderão enfrentar caso a UEMG deixe de existir, uma vez que 53% dos vencimentos atualmente são compostos por adicionais e gratificações vinculadas à instituição.
Impacto direto em Poços de Caldas
A UEMG em Poços de Caldas conta atualmente com cerca de 500 alunos, distribuídos em três cursos presenciais e dois cursos em EaD. Além disso, mantém ações de extensão e pesquisa de grande relevância social para a comunidade local.
Um dos exemplos citados por Ruela é a UNABEM – Universidade Aberta para a Maturidade, programa de extensão voltado para pessoas com mais de 60 anos. A iniciativa oferece atividades educativas e lúdicas, promovendo inclusão social e qualidade de vida na terceira idade. Em Poços de Caldas, a UNABEM oferece cursos e oficinas diversas para a comunidade.
Outro projeto importante é o de contraturno escolar, que atende 170 alunos da Escola Municipal João Pinheiro. Os estudantes participam de atividades de reforço escolar e desenvolvimento na universidade.
“A universidade vai além do ensino superior. Ela forma professores, atende a comunidade e desenvolve políticas públicas.”
Apoio político em risco
Ruela também destacou que muitos deputados estaduais aliados do governo têm forte ligação com os campi da UEMG em suas bases regionais, o que pode colocar em risco o apoio político à proposta. Um dos nomes citados foi o do deputado Cássio Soares (PSD), de Passos, que teria reafirmado seu compromisso com a defesa da universidade durante a audiência pública.
“A UEMG investe nas cidades onde está presente. Só em Poços, são R$ 4 milhões. Deputados sabem disso, e muitos têm a universidade como base eleitoral. Espero que reflitam antes de votar.”
Risco de descontinuidade
O professor também levantou preocupações quanto à possível interrupção de cursos e projetos em andamento caso a UEMG seja extinta ou desmembrada.
“Se a UEMG for federalizada, entre aspas, os professores não estarão mais lá. Os alunos têm direito à terminalidade do curso, mas o governo não explicou como isso se dará. Eles não sabem o que estão fazendo — ou sabem muito bem e querem privatizar.”
Apelo final aos deputados
Diante das manifestações que vêm ocorrendo em várias cidades e da mobilização de estudantes e professores em todo o estado, Ruela fez um apelo direto aos deputados estaduais:
“A solução está nas mãos dos deputados estaduais. Que reconheçam a UEMG como o patrimônio que é. Não podemos permitir que a educação pública seja usada como moeda de troca para pagar dívida.”
Assista à entrevista completa:
A entrevista gerou forte repercussão, com dezenas de mensagens de apoio de alunos, professores, ex-alunos e representantes da sociedade civil. A mobilização em defesa da UEMG segue ganhando força em todas as regiões de Minas Gerais.
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