Ordem do Dia 28/08/25
Atualizado em 28/08/2025
Pode ser coincidência. Por outro lado, poderia ser um certo tipo de plágio, ou uma citação sem os devidos créditos.
O curioso seria ninguém ter notado isso, até hoje.
A cena na qual o jovem oficial de “Dança com lobos”, representado por Kevin Costner, é recebido em seu novo posto de comando, parece com a descrição desenvolvida na obra “O deserto dos tártaros”, de Dino Buzzati.
Vejamos.
O personagem de Costner, jovem e brioso oficial, envergando solenemente um impecável uniforme, é recebido por um mal composto, decadente e desinteressado velho oficial, fora de forma.
No caso da descrição de Buzzati, muito parecida com essa, há até uma mancha de gordura no uniforme do velho oficial, que ele tenta esconder, inutilmente. O contexto lembra o uniforme, e da postura, do desleixado velho oficial de “Dança com lobos”.
Há semelhanças também em relação ao posto de comando: ambos igualmente decadentes, localizados numa fronteira distante, de reduzida importância. O famoso “fim de linha”.
Vamos evitar “spoilers”. Haveria o suficiente para uma comparação.
Temos algumas outras coincidências: tanto os tártaros, que referenciam a obra de Buzzati, quanto os orgulhosos “selvagens” norte americanos de “Dança com lobos”, representam não apenas o inimigo, mas duas culturas desconhecidas, bizarras aos olhos ocidentais, ameaçadoras, sobre as quais pairam preconceitos.
Os desfechos seriam diferentes. Mas as apresentações iriam além disso, pois ambas as histórias, hoje clássicas, cada uma a seu modo, mergulham em questões existenciais. E desvendam mistérios.
Bons tempos em que mistérios se apresentavam.
Hoje, temos mistérios apenas nos versos do cancioneiro popular: “mistérios há de pintar por aí…”.
Só na música poderia haver surpresas. A realidade já foi toda revelada e estaria contida na pequena tela de um celular. Que mostra uma perspectiva ainda menor que a própria tela. Matrix existe. Somos todos escravos do mundo digital.
Há poucos dias, este colunista foi abastecer o carro num pequeno posto. Havia apenas dois frentistas. Ambos capturados pela tela dos respectivos celulares.
Um deles abasteceu o tanque como se fora um autômato.
Colocou o combustível, recebeu o pagamento e retornou à tela. Não disse uma única palavra. Não ofereceu nenhum outro serviço e sequer olhou em volta.
Não havia movimento. Por alguma razão, lembrei-me do Forte Bastiani, descrito por Buzzati.
Fim de linha.
* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com

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