Cratera de vulcão extinto em Poços de Caldas pode suprir até 20% da demanda mundial por terras raras
Atualizado em 04/08/2025
Região atrai empresas nacionais e estrangeiras em meio à corrida global por minérios estratégicos; EUA já manifestaram interesse em parceria com o Brasil

Uma das maiores jazidas de terras raras do planeta está localizada em uma cratera de vulcão extinto no Sul de Minas Gerais, e pode transformar a região de Poços de Caldas em peça-chave no fornecimento global desses minérios. Estudos apontam que o local tem potencial para suprir até 20% da demanda mundial por terras raras, essenciais para tecnologias como carros elétricos, turbinas eólicas, baterias e sistemas de defesa.
A descoberta da jazida, feita no início dos anos 2010 pelo geólogo Álvaro Fochi, despertou o interesse de diversas empresas brasileiras e estrangeiras, e colocou a cidade no centro da disputa por recursos estratégicos em meio à transição energética global.
Região concentra um terço dos pedidos de exploração em MG
Dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) mostram que o Brasil já soma 1.882 autorizações para pesquisa de terras raras, sendo 361 apenas em Minas Gerais. A região de Poços de Caldas concentra cerca de um terço desses pedidos no estado, com aproximadamente 100 autorizações em andamento.
Segundo o geólogo Paulo Henrique Silva Lopes, as empresas têm até três anos para realizar estudos técnicos e apresentar relatórios conclusivos. Só então podem dar entrada no pedido de lavra, para efetivamente iniciar a exploração mineral.
“Mesmo sem geologia clara, a expectativa é grande porque a região está sobre um veio mineral muito promissor”, afirmou.
A cratera, ou planalto vulcânico, tem cerca de 800 km² e se estende por Poços de Caldas, Andradas e Caldas (MG), além de Águas da Prata (SP). A estimativa é que haja 300 milhões de toneladas de terras raras no subsolo da área.
Australianas devem iniciar exploração em 2026
Duas mineradoras australianas já estão com projetos avançados na região e devem iniciar a extração entre 2026 e 2027. Juntas, elas devem explorar uma área de 420 km². Em apenas 15% deste território, estudos indicaram a presença de 2 bilhões de toneladas de argila com íons de terras raras — quantidade suficiente para sustentar duas décadas de mineração.
A extração será feita em solo raso, o que representa uma vantagem significativa: os minérios estão a cerca de 30 metros de profundidade e concentrados em argilas iônicas, o que reduz os custos operacionais e o impacto ambiental.
O método adotado será o backfill, um sistema cíclico que reabilita uma cava já explorada com o material retirado da nova. Essa técnica dispensa o uso intensivo de explosivos e grandes escavações, tornando o processo cinco vezes mais barato do que a mineração em profundidade.
Interesse internacional e apoio do governo brasileiro
O potencial estratégico das terras raras brasileiras despertou atenção de potências internacionais. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), mesmo com tensões comerciais recentes, o governo dos Estados Unidos manifestou interesse em firmar parcerias para aquisição dos minérios. Em julho, o encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil, Gabriel Escobar, expressou oficialmente o desejo de aproximação.
Desde os anos 1990, a China domina a produção mundial de terras raras e de ímãs permanentes — essenciais para tecnologias verdes e equipamentos militares — respondendo por mais de 90% do mercado. Em resposta, os EUA têm buscado diversificar fornecedores, e o Brasil desponta como alternativa viável, com a segunda maior reserva conhecida no mundo: 21 milhões de toneladas, equivalente a 23% das reservas globais, segundo o Ministério de Minas e Energia.
Além de Minas Gerais, o país tem projetos mapeados em estados como Goiás, Bahia, Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo e Roraima.
R$ 45,8 bilhões em investimentos para cadeias produtivas
Em junho deste ano, o governo federal anunciou a seleção de 56 planos de negócios para desenvolver cadeias produtivas de minerais estratégicos. A chamada pública, coordenada pela Finep e o BNDES, irá destinar R$ 45,8 bilhões em investimentos. Dentre os projetos contemplados, dez são voltados para terras raras; os demais envolvem minerais como lítio, grafite, cobre, silício, níquel e titânio.
A iniciativa reforça o objetivo do Brasil de não apenas exportar matéria-prima, mas também desenvolver tecnologia e valor agregado a partir dos minérios.
O que são terras raras?
Terras raras são um grupo de 17 elementos químicos com propriedades fundamentais para equipamentos de alta tecnologia. Embora não sejam exatamente raros na crosta terrestre, são difíceis de extrair de forma economicamente viável.
Entre os mais procurados estão o neodímio e o praseodímio, usados na fabricação de ímãs supermagnéticos, presentes em motores de carros elétricos, turbinas eólicas, celulares, computadores e sistemas de defesa.
Com o avanço das tecnologias limpas e a corrida global por descarbonização, a demanda por esses elementos deve crescer exponencialmente nas próximas décadas — e Poços de Caldas pode se tornar um dos principais protagonistas desse cenário.
Fonte: Com informações de G1 e ANM.
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