Aluna do Inatel desenvolve copo que detecta bebida adulterada com metanol ou drogas
Atualizado em 15/12/2025
Dispositivo muda de cor em até 15 segundos e pode ajudar a prevenir golpes e intoxicações em festas e eventos

Um copo desenvolvido por uma estudante do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, é capaz de indicar a possível adulteração de bebidas com metanol ou substâncias dopantes. A tecnologia, criada pela aluna de engenharia biomédica Rayana Fernanda dos Santos Silva, utiliza uma reação química visual rápida e discreta, sem alterar o sabor, o cheiro ou a aparência da bebida.
Batizado de “Safe Sip” — ou “gole seguro”, em tradução livre —, o copo foi pensado como uma ferramenta de proteção ao consumidor, especialmente em ambientes como festas, baladas e festivais, onde a adulteração de bebidas é difícil de ser percebida.
Como funciona o “Safe Sip”
O copo conta com uma fita gelatinosa interna produzida a partir de antocianinas, pigmentos naturais extraídos de compostos vegetais. Quando a bebida entra em contato com essa fita, ocorre uma reação química que provoca mudança de cor em até 15 segundos, caso haja contaminação.
A coloração indica o tipo de substância detectada:
- Amarelo neon: possível presença de metanol;
- Rosa: indício de drogas dopantes.
Segundo a estudante, o sistema foi desenvolvido para ser seguro e discreto, permitindo o uso sem chamar atenção em ambientes sociais.

Detecção de drogas usadas em golpes
A fita foi testada para a identificação de substâncias como GHB (ácido gama-hidroxibutírico), cetamina e benzodiazepínicos — drogas sedativas frequentemente associadas a crimes conhecidos como “Boa Noite, Cinderela”, que podem causar perda de consciência e lapsos de memória.
De acordo com a professora Maysa Costa Alves, orientadora do projeto, o objetivo não é identificar uma droga específica, mas detectar alterações químicas associadas à presença de substâncias dopantes.
“O copo detecta a presença dessas substâncias por meio da variação de pH. O GHB, por exemplo, pode se apresentar de formas diferentes. O ácido puro tem pH ácido, enquanto o GHB de sódio é alcalino. Essa variação é uma das pistas usadas em análises toxicológicas”, explica.
Testes e limitações da tecnologia
A fita reativa funciona com diferentes tipos de bebidas, desde que estejam em temperatura ambiente ou geladas. O sistema ainda não foi testado com líquidos quentes. A mudança de cor pode ser observada mesmo em diferentes condições de iluminação.
Em testes laboratoriais, a fita apresentou sinais iniciais de degradação apenas após cerca de 72 horas. Segundo a pesquisadora, houve um cuidado específico na calibração dos reagentes para evitar reações com bebidas comuns.
“Se você coloca café ou energético, por exemplo, ela não muda de cor. A reação acontece apenas dentro de uma faixa muito específica, ligada às substâncias dopantes e ao metanol”, afirma Rayana.
Pesquisa acadêmica e reconhecimento
A estudante dedicou dois anos da graduação ao desenvolvimento da tecnologia. O projeto original, voltado à detecção de drogas dopantes, foi apresentado na Feira Tecnológica do Inatel (Fetin) de 2024, onde recebeu o primeiro lugar na categoria complexidade técnica. O trabalho também dará origem a um artigo científico, atualmente em fase de finalização.
Segundo Rayana, a motivação da pesquisa surgiu a partir de dados preocupantes.
“Estudos indicam que cerca de 25% das mulheres já foram vítimas desse tipo de crime em festas e eventos. Muitas dessas substâncias não alteram cor, cheiro ou sabor da bebida, o que torna a adulteração praticamente imperceptível”, destaca.
Adaptação para detectar metanol
Em 2024, a tecnologia foi adaptada para detectar metanol, após o aumento de casos de intoxicação no país. Dados apontam que o Brasil registrou 73 casos de envenenamento por metanol, com 22 mortes.
A adaptação foi feita pela startup Green Byte Solution, criada pela própria pesquisadora. Inicialmente, a proposta era desenvolver um copo descartável feito com bagaço de cana-de-açúcar, mas o projeto evoluiu para um copo de plástico biodegradável, capaz de se decompor em até seis meses quando descartado corretamente.
“A ideia é oferecer uma solução sustentável, acessível e segura para prevenir um problema grave de saúde pública, que é o consumo de bebidas adulteradas”, afirma Rayana.
Caminho para a patente e o mercado
O próximo passo do projeto é o registro de patente. A startup de Rayana está incubada no programa Inatel Startups há dois anos e atualmente se encontra na fase de pré-incubação, buscando investimentos e apoio para viabilizar a proteção intelectual e a produção em escala.
Segundo o professor de processos industriais do Inatel, Wanderson Eleutério Saldanha, que auxilia no processo de patenteamento, o produto tem grande potencial de mercado.
“O copo pode ser utilizado em larga escala em grandes eventos ou até vendido em supermercados, permitindo que famílias tenham mais segurança ao servir bebidas em casa”, avalia.
Impacto social
Para a estudante, o principal objetivo do projeto é contribuir para a segurança da população.
“A expectativa é que o copo chegue ao mercado em breve. Se conseguirmos evitar um caso de intoxicação por metanol ou impedir que alguém seja vítima de um golpe por bebida adulterada, já estaremos cumprindo nosso propósito”, conclui.
Fontes: Inatel e G1.
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