Agrotóxico na Água, Qual a Novidade?
POR MARIA TERESA MARIANO.
“A sociedade contemporânea em sua maioria, infelizmente, vislumbra com as novas tecnologias, porém ainda não resolveu o problema das doenças de veiculação hídrica, como as difterias. Pior é a constatação dos chamados poluentes emergentes constantes nas águas servidas para a população em geral. Entre eles temos de remédios, agrotóxicos, até nano partículas de plástico, entre outros.
Acesso a uma água de qualidade está difícil e em determinadas regiões nem acesso a qualquer água é fácil, isso porque a água incide em nosso planeta de maneira sazonal e sua distribuição é irregular. Desta forma é preciso entender a dinâmica do ciclo hidrológico, compreender sua presença e interação no ambiente natural, e a partir destas informações planejar seu uso de modo racional. Colocado desta maneira, parece que gerenciar as águas é fácil, mas não é. O grande problema não é a técnica e sim a política.
O Brasil tem uma Política Nacional de Recursos Hídricos desde 1997, porém a implementação está aquém das necessidades. Para termos uma ideia, ainda é desconhecida a figura dos Comitês de Bacia Hidrográfica para a população de modo geral, como ele funciona, qual sua composição, para que ele serve. Nem é de conhecimento geral qual é o modelo de gestão que o Brasil adotou nesta política importante. Sem este conhecimento pelos nossos gestores públicos fica difícil gerenciar com racionalidade e presteza nossas águas.
Temos excelentes companhias públicas que analisam, tratam e tentam, na medida do possível, entregar a população uma água mais potável possível, afinal nem todos os poluentes despejados nas águas são passíveis de remoção, é o caso dos organoclorados usados ilegalmente nas lavouras. Sim, a agricultura, além de consumir 70% de toda água doce ela é uma das responsáveis em potencial na contaminação por abuso do uso dos agroquímicos nas lavouras. O excesso de produtos é carreado pelas águas da chuva, penetram no solo, atingem o subsolo e consequentemente contaminam nossas águas.
O Brasil é campeão em uso indiscriminado de agroquímicos, aprovou-se nos últimos cinco anos agrotóxicos já proibidos em outros países. Ao invés de banirmos substâncias comprovadamente perigosas a saúde humana, liberamos. Obviamente que a saúde é diretamente atingida, consumimos muito agrotóxicos por ano, observem o número crescente de câncer dos mais variados, das doenças autoimunes e alergias. Além da agricultura temos o processo industrial, geração de resíduos perigosos e de efluentes industriais que pioram a situação das águas da sociedade atual.
Não podemos esquecer de que o nosso lixo de cada dia contribui muito também para a piora da situação das nossas águas, o que dirá dos processos de mineração cujo rejeito requer um acondicionamento seguro, não ameaçador. Disponibilizar dados da qualidade das águas servidas a população deve servir para orientar as ações governamentais administrativas no tocante a fiscalização, planejamento, restauração e recuperação dos mananciais. Parar de “entubar” rios, de retirar mata ciliar para construção de vias marginais, de secar áreas alagadas para aumentar área da produção agrícola, além disso, mudar o manejo da agropecuária, minimizar ao máximo o uso de agroquímicos para fornecer produtos de maior qualidade, banir agrotóxicos e adotar técnicas menos agressivas no controle das pragas da agricultura.
É preciso conscientização da população que o papel dos administradores públicos é de proteger e proporcionar a melhoria da qualidade da população e não se submeter a subserviência dos detentores da economia em nome de um desenvolvimento que não é nem de longe sustentável. A mudança começa em nós. Somos responsáveis pelas nossas escolhas, por isso, quando for consumir um produto observe sua composição, verifique sua procedência, analise a origem, dê preferência a agricultura sustentável, aos produtos orgânicos da região, aos produtos vindos da agroecologia, da agricultura familiar. E vamos cobrar das autoridades ações que possam minimizar as contaminações da água, do solo, do ar. Sem pressão de baixo, nada muda em cima”.
MARIA TERESA MARIANO – Geógrafa, mestre em Engenharia área de concentração Ciências da Engenharia Ambiental pela USP de São Carlos, doutoranda em Geografia pela UNESP de Rio Claro. Professora da PUC/Minas campus Poços de Caldas desde 2001; foi conselheira do CONSEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente de São Paulo, representando as ONGs Ambientalistas do Interior paulista -1998/1999; e do conselheira titular do Comitê de Bacia Hidrográfica dos Rios Afluentes Mineiros dos Rios Mogi/Pardo, representando a PUC/Minas campus Poços de Caldas (2004/2023), no qual participou da diretoria, das câmaras técnicas de Meio Ambiente, Outorga e nesta última gestão na câmara técnica de Outorga e Cobrança pelo uso da água. Participa da nova gestão da Associação Poços Sustentável (APS).
Fonte: Blog Tânia Malheiros.
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