A verdade sobre a crise na saúde: secretário expõe demissões, atrasos e incertezas no Programa Amigo Promotor
Atualizado em 10/12/2025
Secretário adjunto José Gabriel Baeta admite atrasos nos pagamentos, comenta pedidos de demissão e garante que “ninguém vai dar calote nos médicos”, enquanto ouvintes cobram transparência da administração

O programa Amigo Promotor voltou a colocar a saúde pública de Poços de Caldas no centro do debate na edição da última quinta-feira (4), transmitida ao vivo pela Rádio Estúdio FM 87,9 e pela Sulminas TV (app, YouTube, Instagram e Facebook).
Com apresentação do promotor de justiça Dr. Glaucir Antunes Modesto e do jornalista Felipe Popó, o convidado foi o secretário adjunto de Saúde, Dr. José Gabriel Pontes Baeta da Costa, que respondeu a questionamentos sobre pedidos de demissão de médicos, atrasos nos pagamentos de honorários, falta de medicamentos e o fim do convênio 001 com a Santa Casa de Poços de Caldas.
Ao longo do programa, dúvidas e críticas de ouvintes e internautas ajudaram a expor o clima de tensão e desconfiança que envolve a gestão da saúde no município.
Paralisação e demissão de médicos: “não houve abandono de plantão”, diz Baeta
Um dos temas mais sensíveis foi a denúncia de que médicos teriam deixado plantões na UPA por falta de pagamento, além de pedidos de demissão na Policlínica Central.
O ouvinte Sandro Avelino, da Cohab, relatou que na segunda-feira “já havia pouquíssimos médicos” na Policlínica, o que obrigou pacientes a retornarem ao posto de saúde do bairro e remarcarem consultas, gerando constrangimento e frustração.
Ao responder, Baeta confirmou que há pedidos de demissão de médicos, mas negou que tenha havido abandono de plantão:
“Não houve nenhum abandono de plantão. Tivemos profissionais que solicitaram desligamento da rede, que não manifestaram mais interesse em assumir os plantões, mas isso é natural. À medida que um profissional pede desligamento, a gente procura outro profissional para fazer a substituição.”
Segundo ele, toda demissão é acompanhada de tentativa de diálogo:
“Nós estamos entrando em contato com esses profissionais para entender o motivo da demissão. Se for contrato, pagamento, insegurança, nós vamos tentar resolver da melhor forma possível para não haver desassistência. Se for opção pessoal do médico, buscamos substituto.”
Atrasos nos pagamentos: “se atrasar um dia, está errado”
Outro ponto polêmico foi a nota divulgada por médicos falando em paralisação e atrasos de honorários, contraposta à versão oficial da prefeitura.
A ouvinte Camila Rodrigues questionou diretamente: há ou não atraso? Qual o prazo para regularizar? Como garantir atendimento emergencial diante da insatisfação dos profissionais?
Baeta foi direto:
“Houve atraso? Sim, houve atraso. Em nenhum momento, da minha boca ou da boca do Dr. Luís (secretário de Saúde), nós negamos que houve qualquer tipo de atraso.”
Ele ponderou, porém, que os atrasos seriam de dias, e não de meses, e reforçou que, do ponto de vista ético, isso é inaceitável:
“Nenhum profissional pode trabalhar e não receber. Se for um dia de atraso, está errado. A Secretaria de Saúde está ciente disso.”
Segundo o secretário adjunto, os médicos da urgência e emergência já receberam o mês anterior, mas os especialistas ainda aguardam pagamento, com previsão de acerto “nos próximos dias”, enquanto a equipe corre atrás de recursos.
Baeta também criticou a forma como informações circularam:
“Recebemos comunicados via WhatsApp falando em grupo de médicos insatisfeitos, ata de paralisação… Mas nunca tivemos acesso a essa ata, nunca fomos comunicados formalmente. Houve um atropelo de informações, como se a saúde estivesse parando e os médicos fossem pegar e ir embora. Isso não corresponde à realidade.”
“Ninguém vai dar calote nos médicos”
Ao ser questionado sobre médicos que consideram deixar a rede pública por insegurança, Baeta fez um apelo para que aguardem e conversem diretamente com a gestão:
“Se eu pudesse dizer algo a eles, diria: vale a pena esperar. Se o médico estiver com dúvida, meu telefone está disponível, meu gabinete está aberto. Já falaram em ‘calote’, mas ninguém vai dar calote nos médicos. A prefeitura e a Santa Casa estão juntas para resolver essa demanda, que é delicada, mas está sendo enfrentada.”
Fim do convênio com a Santa Casa e novo modelo de gestão
Um dos pontos mais controversos da atual gestão é o rompimento do convênio com a Santa Casa de Salto de Pirapora no início do ano e, agora, o encerramento do convênio emergencial com a Santa Casa de Poços de Caldas, previsto para 15 de janeiro.
Baeta explicou que o convênio 001 foi criado como medida emergencial após a rescisão do contrato anterior:
“Nós pedimos seis meses, com possibilidade de prorrogação por mais seis, mas agora o convênio precisa ser encerrado. É uma questão legal. A partir de 16 de janeiro, os profissionais contratados por esse convênio terão seus contratos rescindidos.”
Ao mesmo tempo, ele garantiu que isso não significa romper com a Santa Casa de Poços:
“Não estamos tirando o convênio da Santa Casa, pelo contrário. Estamos utilizando mecanismos legais para manter a Santa Casa como prestadora e parceira, mas sem convênio ‘guarda-chuva’. Parte do que hoje está no 001 ficará na Santa Casa, dentro da legalidade, e outras situações serão distribuídas entre outros prestadores e consórcios.”
ICISMEP, Paraopeba e esclarecimento sobre nova OS
A entrada do ICISMEP – Instituição de Cooperação Intermunicipal do Médio Paraopeba provocou rumores de uma nova operação de OS de fora da cidade. Baeta rebateu:
“Não existe convênio com OS de Paraopeba. O que existe é um consórcio, com sede lá, como o Cismarpa tem sede em Poços. É apenas um prestador de serviço.”
Para ele, depender de um único contrato é arriscado:
“Não podemos ficar dependentes de um único convênio, de um único consórcio, de uma única pessoa jurídica para tratar de toda a saúde de Poços de Caldas. Isso não é adequado. A gestão tem que permanecer com a Secretaria Municipal de Saúde.”
Falta de medicamentos e especialistas
A ouvinte Célia, da zona oeste, relatou falta de médico neurologista, demora para retorno em ginecologia e ausência do medicamento sertralina, usado no tratamento de transtornos mentais.
Baeta reconheceu dificuldades:
- A sertralina, segundo ele, é medicamento de dispensação controlada, e o caso específico será verificado individualmente;
- Na neurologia, assim como na neuropediatria, há grande dificuldade em encontrar profissionais dispostos a atuar na rede pública, devido à remuneração inferior ao setor privado.
Ele afirmou que a Secretaria busca soluções com contratações focalizadas:
“Se eu tenho uma demanda muito grande em neurologia, posso fazer uma contratação específica dentro da legalidade, trazer o profissional e ir dando vazão às filas.”
Instigado por Dr. Glaucir, Baeta evitou falar em “melhor” ou “pior” apenas pelo sentimento dos usuários:
“A percepção do cidadão é diferente da minha, da sua, da do Popó. Eu não gosto de trabalhar com ‘parece que estava melhor, parece que estava pior’.”
Ele recorreu a números de produção:
“Em termos de quantidade de atendimentos, procedimentos e cirurgias, tivemos números próximos a 2023, com aumento em algumas especialidades. Também houve redução no tempo de espera na UPA, embora casos pontuais ainda gerem a impressão contrária.”
Baeta classificou como corajosa a decisão do prefeito de romper o convênio anterior por entender que havia “risco assistencial à população” e repetiu que, agora, a principal diferença é:
“A saúde de Poços de Caldas está nas mãos de Poços de Caldas. A gestão em saúde é do município.”
Atenção primária e excesso de obras: “não adianta construir sem manter”
Questionado sobre a política de construção de novas unidades de saúde, inclusive uma nova UBS ao lado da já existente no Country Club, Baeta aproveitou para fazer uma crítica genérica a gestões passadas:
“Não adianta você construir unidade de saúde se não tem estrutura para manter. Muitas vezes se cria uma política de construir, construir, construir e às vezes nem equipe suficiente para colocar lá dentro existe.”
Sobre o caso específico do Country / Veredas, ele explicou que a região está sobrecarregando a unidade atual, e que o município só pode construir em terreno próprio, o que explica a proximidade entre as UBSs.
Se pudesse escolher o que resolver primeiro, sem limites burocráticos, Baeta foi enfático:
“Fortalecer a atenção primária. Colocar mais servidores, valorizar ainda mais os agentes comunitários de saúde. É na atenção básica, na porta de entrada, que a gente conseguiria melhorar cada vez mais a saúde.”
Transparência, prazo de validade e recado final
No encerramento, Baeta repetiu que vê sua função na Secretaria como algo com “prazo de validade” e que não se considera político de carreira:
“Eu estou lá para servir. Quero deixar o melhor para a saúde e para a população, mas não quero que fique ‘foi o Baeta que fez’. Quero que as coisas se construam de forma natural, com transparência.”
Ele também reforçou que a porta está aberta para médicos e usuários:
“Conversem conosco. Haverão falhas e dificuldades, mas boa intenção, transparência e correção não vão faltar.”
O programa terminou com o anúncio de que, no dia 18, o prefeito Paulo Ney e o presidente da Câmara, Douglas Dofu, estarão ao vivo no Amigo Promotor para responder diretamente às perguntas sobre a situação da saúde em Poços de Caldas – incluindo as que ficaram ecoando ao longo desta edição, marcada por cobranças, críticas duras e a promessa de que “ninguém vai ficar sem resposta”.
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